quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

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Primeiramente, gostaria de pedir perdão, pelo tempo que fiquei sem lhe escrever. Não digo que foi a falta de tempo, mas confesso que ainda não estava em condições de tal ato.
Não tive oportunidade de me despedir, mas ainda há muitas coisas que preciso conta-lhe, então vim por meio desta dizer-lhe.
A princípio imaginei que não me acostumaria a esta cidade, mas gostei. O céu aqui é mais intenso, ouso dizer que o brilho dele é comparável ao do seu olhar. Estou feliz, mas confesso que sinto falta de algumas coisas. Da sua pessoa, inclusive. Seu jeito amigo, carinhoso, a forma com que se dirige a mim, e o teu semblante quando algo lhe agrada.
Tu não sabes o quanto sinto em dizer-lhe, mas não voltarei mais, não consigo mais me sentir segura neste lugar onde cresci. Eu quero mais. Eu sei o que pensa a respeito de minhas decisões, mas peço que não interfira nas mesmas, e não me julgue sem saber os meus verdadeiros motivos.
Mande lembranças ao meu pai, e peça desculpas a minha mãe por me despedir tão abruptamente. Diga-lhes que estou bem e que preciso apenas de um tempo e em breve mandarei notícias para eles.
Farei o que me pediu pela última vez que nos vimos, guardarei até o fim dos meus dias as nossas lembranças, mesmo sem vontade. Sei o que estão a comentar de mim por estas terras, mas não importo-me, só eu sei o que realmente é importante para minha pessoa. Sinto por essas pessoas que não compreendem tais atitudes, mas não as julgo, o caso é que cada um precisa de um tratamento diferente, quando as feridas são da alma. Rogo todos os dias a Deus para que me liberte dessa dor insuportável. Sei que ele me ouve, mas não entendo por que não me livra. Eu que sempre fui tão fiel e sempre fazia coisas boas em Seu nome. Mas Ele deve ter seus preceitos para comigo.
Espero que esteja tudo bem contigo, não lhe desejo nenhum mal, ao contrário, espero que sejas mui feliz. Afinal, a minha felicidade caminha com a sua. Não preocupe-se, não vou fazer nenhuma 'besteira', não nego que já ter passado esta opção em minha mente, afinal esta seria a única alternativa de libertar-me desta escuridão sem fim, mas uma parte de mim ainda tem a esperança de me deparar com a felicidade novamente.
A esta altura já me tornei Ateu, e Nômade também, em breve partirei daqui, apesar de gostar deste lugar não a nada que me prenda aqui agora, nem lugar algum, pelo menos não meu corpo, uma vez que minha alma está decretada prisioneira a tua até o fim, pois sei que nem a morte poderá libertá-la, caso contrário ela já estaria livre.
Com minha visão turva e úmida creio que não serei capaz de escrever-lhe mais, já estou a borrar o papel. Contente-se está será a última vez que escrevo-lhe. Não por que disse tudo o que tinha a dizer, mas o suficiente para tentar dormir em paz. Espero que leia, mas não espero respostas. Agradeço por respeitar os meus limites, preciso deste tempo para cuidar da minha saúde, um pouco debilitada, e também ir atrás dos meus ideais, mesmo não parecendo eu nunca deixei de crer neles.

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